Há muitos casos de precocidade intelectual infantil, como crianças com 2, 3 ou 4 anos que aprendem a ler sozinhas, facilidades em idiomas, se interesse por números. Em geral, estas crianças apresentam um quadro de Hiperlexia, que pode estar interligado ao Transtorno do Espectro Autista. São crianças muito inteligentes, mas há prejuízos na forma de comunicação/linguagem, habilidades socais e, às vezes, apresentam comportamentos estereotipados.
A Hiperlexia pode ser o oposto da Dislexia, uma dificuldade de aprendizagem caracterizada por ter dificuldade em ler e soletrar, que estão dentro dos transtornos de neurodesenvolvimento.
No entanto, ao contrário das crianças com hiperlexia, as disléxicas podem normalmente entender o que estão lendo e ter boas habilidades de comunicação. De fato, adultos e crianças com dislexia são muitas vezes capazes de entender e raciocinar muito bem. Eles também podem ser pensadores rápidos e muito criativos.
A dislexia é muito mais comum do que a hiperlexia. Uma fonte estima que cerca de 20% das pessoas nos Estados Unidos têm dislexia, 80 a 90% de todas as dificuldades de aprendizagem são classificadas como dislexia.
A hiperlexia está fortemente ligada ao autismo. Uma revisão clínica concluiu que quase 84% de crianças com hiperlexia estão no transtorno do espectro do autismo. Por outro lado, estima-se que apenas cerca de 6 a 14% das crianças com autismo tenham hiperlexia.
Segundo a definição da Associação Americana de Hiperlexia, o transtorno configura-se como um conjunto de sintomas que se apresentam em crianças com transtornos em algumas áreas de seu desenvolvimento. Dentre estes destaca-se a habilidade precoce em decodificar palavras sem a presença de instrução formal.
É considerada um transtorno de linguagem e comunicação, não de comportamento. Embora crianças hiperléxicas possuam padrões comportamentais muito similares ao quadro de autismo de alto funcionamento, tendem a perder estas características à medida que desenvolvem suas habilidades de linguagem. Vale observar que crianças dentro espectro do autismo apenas em raras ocasiões apresentam avançadas habilidades de leitura, mas existem casos em que ambos podem estar associados.
Não é raro que as crianças hiperléxicas leiam as palavras de cabeça para baixo, ou em qualquer posição. Geralmente é entre os 18 e os 24 meses que essas crianças demonstram capacidade para identificar letras e números. Por volta dos três anos, começam a ver as letras reunidas, formando palavras. Isso não é ensinado, a capacidade de ler, simplesmente aparece e fica. Ela aprende a decifrar, a decodificar palavras. Se uma criança começa a ler sem receber lições antes dos cinco anos, isto é considerado leitura precoce e pode significar hiperlexia. As crianças hiperléxicas não têm, todas, igual capacidade de ler, algumas leem aos dois anos outras só aos quatro. A compreensão também varia, mas todas reconhecem as palavras em nível muito superior ao que se poderia esperar de um pré-escolar. E não é incomum que, antes mesmo de desenvolver a capacidade de falar, a criança com hiperlexia já esteja decifrando palavras e frases.
Leitura Compulsiva: Para uma criança hiperléxica, o nível do reconhecimento de palavras isoladas é um, e outro é o nível de compreensão de palavras agrupadas, formando conceitos. As crianças hiperléxicas leem tudo que seus olhos encontram em forma de letra. Pode ser difícil conseguir que fiquem sentadas por algum tempo, lendo histórias infantis, mas lerão qualquer outra coisa que lhes apareça. Elas, simplesmente, não podem evitar isso, pois os estímulos visuais são muito do seu agrado, principalmente sob a forma de letra.
Conduta Social Atípica e Inflexível: Enquanto outras crianças estão começando a falar e descobrindo na linguagem um meio de comunicação com seus pares, as hiperléxicas estão se relacionando com adultos e não com crianças de sua idade. Elas não têm interesse social no mesmo nível que pode ser notado em outras crianças. E se colocadas em ambiente social demonstram não possuir as qualidades requeridas para interação em grupo. Costumam ser mais resistentes, teimosas e birrentas. Situações constrangedoras podem ocorrer por conta de sua inflexibilidade, ou pelo fato destas crianças muitas vezes não entenderem os fatos correntes e nem saberem o que se espera que elas façam. É a limitação da sua linguagem que determina sua conduta, não o contrário. Como muitas vezes elas não entendem o que está sendo dito, procuram assumir o controle da situação. O comportamento rebelde é a reação que costumam ter ao se sentirem confusos, frustrados e inseguros nestes momentos em que não conseguem se exprimir.
Apego à Rotina e Desligamento da Realidade: Para as crianças hiperléxicas, qualquer mudança pode ser algo muito difícil. Quando for necessário introduzir alguma modificação na rotina, é importante preparar a criança para isso. A criança hiperléxica parece pensar que vive num mundo somente seu.
Pequena Capacidade de Atenção: A capacidade de atenção das crianças é pequena, e menor ainda nas hiperléxicas. Em certos casos, manter concentrada em um determinado assunto por mais de alguns instantes é um desafio realmente sério para seus pais e professores. Com frequência desviam a atenção para outro objeto, deixando de lado as tarefas que lhe são propostas, uma após a outra. Por outro lado, se o assunto for de sua própria escolha, podem ser capazes de lhe dedicar atenção por longo tempo. É o que acontece, por exemplo, quando assistem a programas de televisão ou a gravações em vídeo, e isto ocorre devido ao constante estímulo visual que recebem.
A síndrome de hiperlexia ainda não é totalmente compreendida, suas características variam consideravelmente, algumas dessas discrepâncias se devem, em parte, à falta de controle dos sujeitos das pesquisas existentes e os diferentes critérios de inclusão adotados pelos autores em seus estudos. E de acordo com o que a literatura atual reflete, a hiperlexia está sempre associada a outra condição, havendo a necessidade de mais estudos capazes de explicar tal ocorrência e definir se a hiperlexia faz parte do quadro do TEA, uma vez observada que a hiperlexia é muito “próxima” do TEA, ou se a hiperlexia é uma síndrome específica, de modo que finalmente há uma melhor compreensão de suas características, formas de identificação, resultando em avanços positivos para os sujeitos acometidos por tal síndrome, como o cuidado educacional.
Há outros procedimentos que também são comuns em crianças hiperléxicas: atitudes de autoestímulo, tais como, agitar as mãos, bater a cabeça, torcer coisas; sensação geral de ansiedade inexplicada; temor específico a alguma coisa fora do comum; sensibilidade a barulho, frequentes acessos temperamentais. Muitas crianças apresentam esses sintomas entre os 2 e 3 anos, e parecem ser autistas. Entretanto, melhorando a linguagem (compreensão e expressão), a conduta autista diminui ou desaparece. Por isso a importância da avaliação diagnóstica profissional, com neurologista infantil, neuropsicopedagogo, fonoaudióloga e psicóloga especialistas na área de neurodesenvolvimento infantil.
Deve ser lembrado que a hiperlexia é um distúrbio de linguagem, não um distúrbio de conduta. É importante que pais, professores e terapeutas desenvolvam estratégias para melhorar a linguagem e ajudar a criança a entender o que se passa em torno de si, ou o que se espera de si, ela fica menos ansiosa, mais flexível, mais interativa.
Devemos refletir bem sobre o que ensinar e como ensinar a uma criança hiperléxica. Como por exemplo, fortalecer o vínculo afetivo, desenvolver habilidades socioemocionais, linguagem e criatividade entre brincar e aprender é um desafio diário. Como os interesses mudam e as necessidades cognitivas também, você tem que estar sempre à procura de novos meios de ligação entre a diversão e o ensino.
Respeite, porém, os limites e não exija da criança mais do que ela pode dar. Gradualmente, tente esticar o período de tempo em que a criança está se envolvendo com o mundo à sua volta, mas aceite a retirada quando ela precisar de uma trégua, não estimule demais, como se seu filho fosse um reducionismo de “pequeno gênio”, mas o veja como uma criança em desenvolvimento que precisa desenvolver-se como um todo e não apenas um aspecto intelectual. A inteligência não é prejudicada pela hiperlexia. Os testes de inteligência só poderão ser aplicados a partir de 5 anos e nove meses, pois não existem testes de inteligência padronizados antes desta idade, enquanto isso seu filho precisa ser avaliado pelo neurologista infantil, fonoaudiólogo e psicólogo e iniciar o apoio profissional e os pais devem receber orientações adequadas.
As crianças hiperléxicas fixam-se no simbólico desde o início. Elas aprendem a ler antes de saberem falar. Com os bloquinhos de construção, em vez de erguerem torres, formam letras. Se olham para o suporte da mesa, veem um R. Essas crianças precisam ser conduzidas à fase mais elementar dos jogos, para pegar experiência concreta, que geralmente pulam. Não tendo descoberto a relação causa/efeito, por exemplo, através de jogos, elas precisam que lhes seja mostrado, visual e intencionalmente, que uma coisa traz a outra. Que elas voltem a subir em árvores, a fazer coisas simples. Que não se fixem no simbólico, deixando de lado a formação de aptidões concretas.
Ajude a criança a dominar as aptidões que envolvem tocar e sentir o mundo real. Enquanto outras podem descobrir conceitos por si mesmas, a criança hiperléxica precisa de demonstrações concretas. Se uma criança puder processar os estímulos que recebe do mundo físico ao seu redor, sua ansiedade diminuirá e a verdadeira aprendizagem começará. Então o problema do desenvolvimento da linguagem poderá, realmente, ser enfrentado.
ARIANI BARBOZA é Graduada em Pedagogia pelo UNIFEG-Guaxupé, pós-graduada em Neuropsicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade Metropolitana do Estado de São Paulo - FAMEESP-FGV-RP. Possui Extensão em Neuropsicologia, Consciência Fonológica, Neurociência e Alfabetização. É especialista em aplicação do teste DENVER. É membro titular da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia - SBNPp.
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