Por Fernando Dallora
Em agosto de 2024, comemoraremos a chegada ao Brasil do nosso avô, Caetano Dallora (Graziadio Giacomo Dall’Ora - nome de batismo). Este jovem italiano, na época com 14 anos de idade, foi trazido ao Brasil junto com um irmão de 16 anos, por seu pai.
A Itália passava por enormes dificuldades econômicas. Não havia trabalho, a comida era pouca. Antônio Dall’Ora, pai de 9 filhos, inclusive estes dois, já tinha uma irmã no Brasil. Ela enviou mensagem ao irmão dizendo: “mande seus 2 filhos mais velhos que aqui tem trabalho, aqui tem comida”.
Após 40 dias de “sofrida” viagem, desembarcaram do Navio “LA PLATA” com destino já definido: Mococa - fazenda de Francisco Soares. Vieram de trem pela Cia Mogiana de Estradas de Ferro que chegava nesta época na região para levar café ao Porto de Santos.
Eles chegaram para trabalhar em fazendas. O café era a planta a ser cultivada. Esta cultura começou a ser plantada na região na segunda metade do século 19 e necessitava de muitos trabalhadores. Neste período também, houve a abolição dos escravos. Foi quando o Brasil abriu a imigração. A cafeicultura em nossa região foi implantada com forte presença dos imigrantes (diferentemente do Rio de Janeiro onde o café foi cultivado com a força dos escravos), principalmente os italianos que tinham vocação para o trabalho agrícola.
Após estabelecimento dos “bambini”, Antônio Dall’Ora retornou para a Itália deixando aqui seus filhos.
Trabalhando na fazenda, ganharam a confiança do patrão e foi-lhes dado a missão de abrir uma nova fazenda de café, a cerca de 50 km de distância de onde estavam. Foi quando chegaram a Guaxupé. Aqui se estabeleceram, formaram família e em alguns momentos, ajudavam financeiramente a família na Itália.
Quando ainda jovem, vô Caetano manifestava a intenção de retornar ao convívio dos pais e irmãos, mas sempre recebia informações negativas da Europa, como a “Primeira Grande Guerra” (1914-1918). Fato é que nunca mais viu seus familiares. O contato era frequente por cartas.
Passado algum tempo, Vô Caetano se tornou “Carroceiro”. Fazia fretes pela região e em suas andanças, conheceu sua futura esposa, a vó Regina Parussulo, filha de também imigrantes italianos, colona da Fazenda Santa Justa, em São José do Rio Pardo-SP.
Desta união, tiveram nove filhos: Maria Ana - Pilo, Aparecida - Chida, David, Lourdes, Tereza, Caetano, Mário, Regina Célia e José Douglas.
Netos que conheceram Vô Caetano, que faleceu em 1961, dizem que era um homem alto, forte e muito rigoroso com a família. Adorava os netos. Já a vó Regina era um “doce de pessoa”. Vivia para fazer a vida dos outros ser melhor. Cozinhava como ninguém, fazia uma sopa de arroz com tutano maravilhosa. Esta sopa era distribuída diariamente aos filhos residentes em Guaxupé e a algumas famílias carentes que ela fazia questão de ajudar. E as balas de coco que eram uma delícia. Divinas. Os netos faziam fila para ganhar. Ao longo de sua vida, vô Caetano teve indústria de fécula de mandioca e também trabalhou com comércio de café.
Voltando a falar dos Dall’Ora (forma original de escrita) da Itália, nosso avô tinha contato frequente através de cartas até seu falecimento em 1961. Após esta data, as famílias perderam contato. Em 1974, tio Zé, filho mais novo da família foi acompanhar a copa do mundo de futebol na Alemanha e tinha a intenção de conhecer a família de seu pai em Verona- norte da Itália. Utilizou o endereço que seu pai endereçava suas cartas. Lá chegando a “Via Lazzaretto”, perguntou em um açougue se conheciam algum Dallora. O proprietário sorriu e respondeu: todos aqui nesta rua são Dallora. A partir daí uma grande festa foi se formando onde todos faziam questão de conhecer e abraçar o parente “brasiliano”. Havia um forte sentimento de gratidão pelo sacrifício que os dois jovens irmãos fizeram, migrando para uma terra distante e desconhecida para favorecer os mais jovens.
Depois deste reencontro, vários Dallora brasileiros visitaram Verona e outros tantos Dall’Ora italianos vieram conhecer Guaxupé e o Brasil.
A primeira geração dos Dallora no Brasil já faleceu (Vô Caetano e Vó Regina). Seus filhos também já se foram. Tio Zé Dallora era o filho mais novo e o último a falecer em fevereiro deste ano motivo que fez a família organizar um reencontro. Hoje são mais de uma centena de pessoas entre familiares e agregados. Netos, bisnetos e tataranetos de Caetano e Regina, sendo que muitos não se viam há muito tempo por estarem espalhados pelo Brasil. Alguns até não se conheciam. Nos reunimos em Guaxupé, em 16 de março, para uma belíssima festa. Mais de 70 pessoas participaram. Para alegria de todos, a tia Mariza, esposa do tio Mário, a mais “experiente” da família fez questão de participar e externar sua satisfação em estar conosco.
Somos todos brasileiros, muito brasileiros e temos orgulho de nossa origem italiana. A família continua crescendo e agregando pessoas de outras origens que nos trazem uma miscigenação extremamente positiva. Esperamos nos reunir em outros momentos tão felizes quanto este e que possam participar todos, inclusive, os que não puderam estar presente neste dia.